segunda-feira, 30 de março de 2009

A Revolução Farroupilha (1835 - 1845) Registrada na "Imprensa Gaúcha"

Carlos Roberto S. da Costa Leite*


Para que compreendamos a importância da imprensa, no processo histórico, durante o século XIX, é necessária uma breve abordagem dos fatos políticos que ocorreram naquele período.

Após o surgimento do primeiro periódico gaúcho, o “Diário de Porto Alegre”, em 1827, nossa imprensa assumiu o caráter político-partidário, combatendo e denunciando as arbitrariedades políticas e econômicas do Governo Imperial ou apoiando a política absolutista do imperador D.Pedro I. Após sua abdicação (1831), durante governo das regências, Legalistas e liberais travaram discussões calorosas nos jornais da época que culminaram com a eclosão da Revolução Farroupilha, em setembro 1835, com a tomada de N. Sra. Madre de Deus de Porto alegre.



Desde a “Independência do nosso País”, em 1822, após tantas lutas, nosso povo esperava uma constituição, que representasse os anseios de autonomia e representação política das províncias no governo central. Os ideais liberais foram defendidos por Hipólito José da Costa, ”Patrono da Imprensa no Brasil”, e responsável pela publicação do primeiro jornal brasileiro, o “Correio Braziliense”, editado, em Londres, em 01/06/1808, em português. O mensário circulou no Brasil e Portugal, clandestinamente, devido à proibição da Censura Régia de circularem impressos que criticassem a política lusitana. O jornal encerrou sua circulação, em dezembro de 1822, quando, Hipólito José da Costa, deu por concluída a sua missão doutrinária, após a Independência do Brasil. Hipólito defendeu a Monarquia Constitucional e chegou a propor um anteprojeto da constituição, que foi ignorado pelo imperador D. Pedro I.



Contrariando as expectativas de participação política das Províncias, nosso Imperador centralizou o poder e dissolveu a Assembléia Constituinte, em 1823, que seria responsável pela elaboração da nossa primeira Constituição. D. Pedro I criou o poder Moderador e centralizou o poder, outorgando uma constituição nos moldes absolutistas, em 1824. Essa atitude, despótica e antipática, foi de encontro à facção liberal que desejavam uma Monarquia Constitucional e aos liberais mais exaltados, que sonhavam com a República, conhecidos como “Farroupilhas”.

O clima político-social do País foi se tornando tenso, resultou no processo de abdicação do trono, em abril 1831, em favor do seu filho Pedro de Alcântara. O futuro imperador não tinha idade para governar, e devido a este fato instalou-se o Governo de Regências, até que o menino atingisse a maioridade. Um golpe em 1840 antecipou a maioridade do Imperador D. Pedro II, que contava com 14 anos, iniciando o II reinado no Brasil (1840-1889). Hipólito da Costa

A falta da figura do imperador, representando a unidade nacional, somado aos problemas administrativos e econômicos deram origem a várias revoltas, em diferentes províncias do Império, entre as quais a “Revolução Farroupilha” (1835-1845), que foi a mais longa de todas. Em setembro de 1836, em Seival, próximo de Bagé, Souza Neto proclamou a República Rio-Grandense. Até aquele momento, todas as tentativas republicanas ocorridas em outras Províncias, ao longo da história do Brasil, haviam fracassado.



Todo este processo político foi divulgado através da imprensa nacional e local. Os jornais divulgavam e defendiam posições políticas. Alguns periódicos apoiavam o governo central e outros criticavam de maneira ferrenha a política do Império. Nesses embates políticos, muitos jornalistas foram presos, espancados e até mortos no exercício da luta por um ideal de justiça. Frei Caneca, Cipriano Barata, João soares Lisboa, Luis Augusto May, Evaristo da Veiga, Líbero Badaró, Joaquim Nabuco entre outros nomes, tiveram um desempenho relevante na luta por um Brasil mais justo, pertencendo à galeria dos nomes ilustres que fazem parte da História da imprensa brasileira.

No Rio Grande do Sul, não podemos esquecer os nomes dos jornalistas como: Lourenço de Castro Júnior, Vicente Ferreira Gomes, Francisco Xavier Ferreira (Chico da Botica), o italiano Rossetti, entre outros, que defenderam os ideais de liberdade de expressão, nos primórdios do nosso jornalismo. Entre 1827 a 1850, foram editados 61 jornais no RS, sendo que 37 foram impressos na cidade de Rio Grande, incluindo os órgãos oficiais da República Rio-Grandense: “O Povo” (Piratini e Caçapava - 1838 a 1840); “O Americano” (1842 a 1843 - Alegrete); Estrella do Sul (1843 – Alegrete). A leitura dos jornais redigidos e impressos, no século XIX, por jornalistas que vivenciaram os fatos da história, é uma experiência única. À medida que vamos folheando suas amareladas páginas, é como que mergulhássemos no oceano do tempo. Essa imprensa registrou e legou às futuras gerações um patrimônio de informação de valor incalculável.

A Imprensa Farroupilha foi fundamental na divulgação dos ideais liberais, através dos artigos dos periódicos que criticavam e denunciavam os abusos administrativos e econômicos, que a província de São Pedro sofria, por parte do poder central. Divulgar a intensa atividade da imprensa gaúcha, que, desde 1827, tem participado ativamente nos momentos significativos da história do Rio Grande do Sul é resgate histórico imprescindível.

O saudoso escritor e pesquisador, Rodrigues Till, afirmou, em um discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Maria: ...E um país sem imprensa, sem democracia – bem o sabemos! – é um país que jamais terá guarida na História. Jamais terá guarida na história do Mundo Moderno.... (22/11/1991, Santa Maria,RS).


* Pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa do Museu de Comunicação Social Hipólito da Costa.

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