terça-feira, 5 de maio de 2009


Anúncios de fuga, venda e aluguel de escravos: Os Classificados do Século XIX



Os anúncios de fuga, venda e aluguel de negros, no século XIX, podem ser considerados os primórdios dos atuais classificados que se encontram impressos nos jornais que circulam no cotidiano do País. Analisando sob o prisma econômico, o negro era considerado uma mercadoria (um bem) do qual seu proprietário fazia o uso que desejasse; ainda isento de qualquer culpa moral, pois a Igreja considerava o negro desprovido de alma; logo não humano.

O Brasil tinha uma economia baseada no latifúndio e mão de obra escrava, onde o status social era proporcional à quantidade de escravos que o proprietário possuia para servi-lo. A fuga ou morte de um deles representava um prejuízo financeiro a seu dono. Nesse nefando mercado, o tráfico negreiro oferecia escravos com altas taxas de custo e supria a falta de mão de obra, adquirida na "Mãe Africa", por baixos valores ou pelo simples sistema de troca.

O negro saudável, em boa condição física, tinha um valor monetário alto, e muitos enriqueceram praticando esta intermediação comercial; inclusive irmãos de etnia que, depois de comprarem sua liberdade (alforria), ganhavam dinheiro com o aprisionamento e transporte nos tumbeiros (navios) dos seus "irmãos de cor", para serem comercializados.

Ainda paradoxal, é o fato de existirem jornais que defendiam um discurso abolicionista, porém, devido a dificuldades de ordem econômica, divulgavam esses anúncios.

A Revolução Industrial, liderada pela Inglaterra, trouxe mudanças nas relações de trabalho e produção, embora a exploração de mão de obra permanecesse, dando origem a vários movimentos e greves de operários (movimento proletário) que foram se organizando, enquanto classe, na defesa de seus direitos e melhores salários. Crianças e mulheres eram exploradas pelos proprietários das fábricas.

Retomando a escravidão negra, quando foi do interesse britânico, os ingleses criaram uma lei proibindo o Tráfico Negreiro, pois o dinheiro investido, nesse mercado, poderia ser utilizado na compra de suas mercadorias, gerando riqueza para o país.

O Brasil foi o último país a realizar, tardiamente, a abolição (1888) na América. A mesma se efetivou sem a preocupação de como incluir essa população liberta numa sociedade que oferecia a liberdade, mas não a inclusão social. Não se criou mecanismos que possibilitassem ao negro de exercer sua cidadania, em um universo onde a classe dominante (elite) era branca. A sociedade sente estes reflexos de uma política colonialista e escravocrata até os dias de hoje. O racismo assumido ou velado, sob os artífices da hipocrisia, constitui-se sempre em uma grande temeridade em qualquer sociedade dita civilizada!

Texto: Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite / Pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa / MUSECOM

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